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sábado, 18 de abril de 2015





Vaccari, o homem dos presidentes

A prisão do tesoureiro do PT mostra que o partido 

atuava no governo como uma organização criminosa

 e envolve a campanha da presidente Dilma Rousseff 

no escândalo da Petrobras

Por: Daniel Pereira e Robson Boni


A "IGREJA" CAIU - Com a ajuda de Vaccari, o PT arrecadou pelo menos meio bilhão de reais em propina apenas na estatal. Homem de confiança de Lula, ele pagou despesas eleitorais de Dilma com o dinheiro sujo
A "IGREJA" CAIU - Com a ajuda de Vaccari, o PT arrecadou
 pelo menos meio bilhão de reais em propina apenas na estatal.
 Homem de confiança de Lula, ele pagou despesas eleitorais 
Dilma com o dinheiro sujo(Cristiano Mariz, Daniel Scelza/Ag. O Globo, Roberto 
Jayme/Estadão Conteúdo/VEJA)
No começo deste mês, a presidente Dilma Rousseff fez uma pausa em sua
de trabalho para discutir o rumo das investigações do petrolão, o maior
 esquema de corrupção da história do país. Numa conversa reservada, ela
 se mostrou impressionada com os depoimentos prestados por Pedro
Barusco, o ex-gerente da Petrobras que acusou o PT de embolsar até
200 milhões de dólares em propinas arrecadadas de fornecedores da
 companhia. Sobre a forma, a presidente disse que Barusco era detalhista
 e organizado. Sobre o conteúdo, foi taxativa: "Ele entregou o Vaccari",
declarou, referindo-se ao tesoureiro petista, João Vaccari Neto. Para a
surpresa do interlocutor, a presidente não demonstrou apreensão. Depois
 de afirmar que o tesoureiro não tinha relações políticas com ela, Dilma
 insinuou que, se alguém deveria estar preocupado, esse alguém era o
 ex-presidente Lula. Naquela mesma semana, em um encontro em São
Paulo, o antecessor também se fez de desentendido. A um petista graduado,
 Lula, mais uma vez, representou seu papel predileto, o do Capitão Renault,
que no clássico Casablanca embolsa um envelope com seus ganhos na noite,
 enquanto finge surpresa com a descoberta do cassino em funcionamento
 no Ricks Cafe. Disse Lula Renault: "Eu quero saber se tem rolo nessas
transações".
Desde 2003, quando o PT assumiu o poder, Lula nunca mais soube de nada.
 No caso do petrolão, não é diferente. Desde a eleição passada, quando se
trata do esquema de corrupção, Dilma lava as mãos e posa como saneadora
 da Petrobras. Os dois querem se afastar de Vaccari, mas as informações
 colhidas pelas autoridades mostram que o "mochila" - ou Moch, como o
tesoureiro era chamado - é um operador a serviço dos dois presidentes.
 Um operador que agora está preso e, na condição de investigado e
encarcerado, tende a aumentar o desgaste da imagem do governo, do
PT e de seus dois principais líderes. No fim do ano passado, o detalhista
Barusco declarou às autoridades que agiu em parceria com Vaccari e o
ex-diretor da Petrobras Renato Duque, a fim de levantar dinheiro sujo
para os cofres petistas. Vaccari nunca explicou por que se reunia tanto
com Barusco e Duque, e sempre insistiu na tese de que as empreiteiras
fizeram doações ao partido dentro da lei. Se no mensalão tudo não passara
 de "caixa dois", como alegara Delúbio Soares, o primeiro tesoureiro do PT
preso, no petrolão tudo agora seria "caixa um", ou financiamento legal, na
de Vaccari, o segundo tesoureiro do PT preso num prazo de um ano e meio.
Essa versão já havia sido desmentida por empresários. Eles confirmaram
que pagaram propina e que o tesoureiro usou a Justiça Eleitoral para
esconder o crime. A novidade é que Vaccari, segundo as autoridades,
praticou o bom e velho "caixa dois", que teria custeado uma despesa da
primeira campanha presidencial de Dilma Rousseff. Ao determinar a
prisão dele, o juiz Sérgio Moro relatou informações prestadas por Augusto
 Mendonça, executivo da Setal. Um dos delatores do petrolão, Mendonça
disse que, em 2010, Vaccari determinou a ele que repassasse 2,5 milhões
de reais à Editora Atitude, controlada por sindicados ligados à CUT e ao PT.
O dinheiro, de acordo com o delator, foi descontado da propina que a
empreiteira devia
 ao partido como contrapartida por contratos na Petrobras. Os pagamentos
 começaram a ser realizados em junho daquele ano. Três meses depois de
 a Setal começar a desembolsar a propina, na véspera da eleição, a gráfica
 imprimiu 360 000 exemplares da Revista do Brasil, edição que trazia na
capa a pré-candidata Dilma Rousseff e o título "A vez de Dilma".
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) puniu a gráfica por propaganda
 eleitoral irregular a favor da petista. Depois de eleita, Dilma nomeou
 o ex-vice presidente da CUT José Lopez Feijóo, um dos comandantes
 da Editora Atitude, para um cargo de destaque na Secretaria-Geral da
Presidência, onde ele despacha até hoje. Disse o juiz Moro: "Observo que,
para esses pagamentos à Editora Atitude, não há como se cogitar, em
 princípio, de falta de dolo dos envolvidos, pois não se trata de doações
 eleitorais registradas, mas de pagamentos efetuados, com simulação,
total ou parcial, de serviços prestados por terceiros, a pedido de João
 Vaccari". Como estratégia de defesa, Dilma tenta erguer uma espécie
de cordão sanitário entra ela e o tesoureiro do PT. A suspeita de caixa
 dois põe em xeque a solidez dessa barreira, que também está ameaçada
por outros dados de conhecimento das autoridades. Após a descoberta
 do mensalão, o PT adotou um novo modelo de arrecadação e instituiu
dois tesoureiros - um para o partido, outro para o candidato a presidente.
Dilma alega que Vaccari atuava apenas para o partido. Não é bem assim.

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