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domingo, 27 de março de 2016

Aos amigos petistas...



 Por Nelson Motta.
“Nunca perdi um amigo por causa de política. Tenho vários amigos petistas que merecem meu afeto e respeito, alguns até minha admiração, e convivemos bem porque quase nunca falamos de política, talvez por termos assuntos mais interessantes a conversar. Mas agora o assunto é inevitável. E eles estão mais decepcionados do que eu.
Também tenho amigos tucanos, comunistas, conservadores, não meço a qualidade das pessoas pelo seu time, religião ou suas crenças políticas, em que sonhos, idealismo e equívocos se misturam com ambição, desonestidade e incompetência para provocar monstruosas perdas de vidas, dignidade e dinheiro ao coitado do povo que todos eles dizem amar.
O PT está caindo aos pedaços, depois de 13 anos no poder, com grandes conquistas e imensos desastres, mas a perspectiva de ser governado pelo PMDB ou pelo PSDB não é animadora. Claro que há gente decente e competente nos dois partidos, mas a maioria de seus quadros e dirigentes não é melhor do que os piores petistas, e vice-versa.

Chegamos finalmente ao “nós contra eles” que Lula tanto queria ... quando era maioria ... e agora se volta contra ele, perseguido como os judeus pelos nazistas e os cristãos pelos romanos ... rsrs.
Se não fosse tão arrogante e autoritária, Dilma mereceria pena, porque não é desonesta, mas é mentirosa e sua incompetência nos dá mais prejuízos do que a corrupção. Suas falas tortuosas são a expressão da sua confusão mental.
E se Lula não fosse tão vaidoso e ambicioso, tão irresponsável e inescrupuloso, não teria jogado a sua história na lama por achar que está acima do bem e do mal e que nunca descobririam que ele sempre soube de tudo.

Petistas inteligentes e informados sabem que o sonho acabou, game over, zé fini, não por uma conspiração da CIA, dos coxinhas ou da imprensa golpista, mas pelos seus próprios erros, pelo baixo nível e alta voracidade dos seus quadros, pela ganância e incompetência que nos levaram ao lodaçal onde chafurdamos.
É triste, amigos petistas, o sonho virou pesadelo, mas não foi a direita que venceu, foi o partido que se perdeu. O medo está dando de 7 a 1 na esperança”.

sábado, 26 de março de 2016

O ocaso de um mito chamado Lula

Lula (Foto: André Coelho / Agência O Globo)
Por Ruy Fabiano Noblat
Neste momento em que a Operação Lava Jato desconstrói a imagem de Lula, depurando-a de todos os artifícios, instala-se uma espécie de assombro geral nos meios intelectuais e artísticos do país, onde ainda reina forte resistência aos fatos.
Tal depuração baseia-se em alentados registros – e o mais eloquente vem da própria voz de Lula, captada nos recentes grampos telefônicos, autorizados pela Justiça, em que exibe solene desprezo pelas instituições, em especial o Judiciário.
Não se deve apenas aos truques do marketing político-eleitoral a construção da imagem do falso herói. Bem antes do advento dos Duda Mendonça e João Santana, hoje às voltas com a Justiça, Lula já desfrutava de altíssimo conceito redentor, esculpido no âmbito universitário, onde o projeto do PT foi engendrado.
E aqui cabe repetir o bordão lulista: nunca antes neste país, um presidente da República foi brindado com tantos títulos honoris causa por parte de universidades, mesmo sem ter dado – ou talvez por isso mesmo - qualquer contribuição à atividade intelectual.
Ao contrário: Lula e seus artífices difundiram o culto à ignorância e ao improviso, submetendo a atividade intelectual à condição subalterna de mera assessora de um projeto populista.
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A epopeia de alguém que veio de baixo e galgou o mais alto cargo da República fascinou e comoveu a intelligentsia brasileira, que o transfigurou em gênio da raça. Pouco interessava o como e o quê fez no poder – questões que agora se colocam de maneira implacável -, mas o simples fato de que a ele chegou.
O símbolo falsificava o ser humano por trás dele. E o país embarcou numa ilusão de que agora, dolorosamente – e ainda com espantosas resistências, – começa a desembarcar.
Fernando Henrique Cardoso, símbolo da nata acadêmica nacional, deixou suas digitais nesse processo. A eleição de Lula, em 2002, contou com sua colaboração. Como se recorda, FHC desengajou-se da campanha presidencial de José Serra, dizendo a quem quisesse ouvi-lo: “Agora, é a vez de Lula”.
Conta-se que, naquela ocasião, ao recebê-lo em Palácio, chegou a oferecer-lhe antecipadamente a cadeira presidencial. Era o sociólogo sucedido pelo operário, ofício que Lula já não exercia há mais de duas décadas. As cenas da transmissão da faixa presidencial, encontráveis no Youtube, mostram um Fernando Henrique ainda mais deslumbrado que seu sucessor.
Lula, na ocasião, disse-lhe: “Fernando, aqui você terá sempre um amigo”. No dia seguinte, cessou o entusiasmo: o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, em sua primeira entrevista, mencionava a “herança maldita” do governo anterior, frase repetida como mantra até os dias de hoje.
E o “amigo” não mais pouparia seu antecessor, por quem cultiva freudiana hostilidade. A erudição, ao que parece, o incomoda, embora a vida lhe tenha proporcionado meios bem mais abundantes de obtê-la que a outros grandes personagens da cultura brasileira, de origem tão modesta quanto a sua, como Machado de Assis, Gonçalves Dias e Cruz e Souza, mestiços que, em plena escravidão, ascenderam ao topo da vida intelectual do país.
O mito Lula começou ainda na década dos 70, em pleno governo militar – e contou com a cumplicidade do próprio regime, que, por ironia, o viu como peça útil na desconstrução da esquerda, abrigada no velho MDB e em vias de defenestrar eleitoralmente o partido governista, a Arena. O regime extinguiu casuisticamente o bipartidarismo, de modo a esvaziar a frente oposicionista.
A frente, em que a esquerda tinha protagonismo, entendia que não era oportuno o surgimento de um partido de base sindical, que a esvaziaria, diluindo os votos contrários ao regime. Lula foi peça-chave nesse processo, concebido pelo general Golbery do Couto e Silva, estrategista político do governo militar.
Há detalhes reveladores em pelo menos dois livros recentes: “O que sei de Lula”, de José Nêumanne Pinto, que cobriu as greves do ABC pelo Jornal do Brasil naquele período, e com ele conviveu; e “Assassinato de Reputações”, de Romeu Tuma Jr., cujo pai, o falecido delegado Romeu Tuma, então chefe do Dops, foi carcereiro de Lula, no curto período em que esteve preso.
Tuma e Nêumanne convergem num ponto: Lula foi informante do Dops, o que lhe facilitou a construção do PT, a cujo projeto se agregariam duas vertentes fundamentais - a esquerda universitária paulista e o clero católico da Teologia da Libertação.
Essa gênese explica a trajetória vitoriosa do partido: o clero proporcionou-lhe a capilaridade das comunidades eclesiais de base e os acadêmicos prestígio e acesso à grande mídia.
A ambos, o PT retribuiu com Lula, o símbolo proletário de que careciam para forjar o primeiro líder de massas que a esquerda brasileira produziu e que a levaria, enfim, a vencer eleições presidenciais. Deu certo – e deu errado.
Lula chegou lá, mas corre o risco de concluir sua trajetória na cadeia. Os acertos de seu primeiro governo derivam da rara conjunção de uma bonança econômica internacional com os ajustes decorrentes do Plano Real. Finda a bonança e desfeitos os ajustes, restou a evidência de que não havia (nunca houve) um projeto de governo – e tão somente um projeto de poder.
A Lava Jato, ao tempo em que reduz Lula a seu exato tamanho, político e moral – e, ao que se sabe, há ainda muito a vir à tona -, mostra o que fez, à frente do PT e do país, para que esse projeto se consolidasse e o eternizasse como pai dos pobres – uma caricatura de Vargas, com mais dinheiro e menos ideias.
De gênio político, beneficiário de uma conjuntura que desperdiçou, lega à posteridade sua grande obra: Dilma Roussef, personagem patética que tirou do anonimato para compor um dos momentos mais trágicos da história da República.
O historiador do futuro terá o desafio de decifrar o que levou a inteligência do país – cujo dever de ofício é antever e evitar tais desvios - a embarcar num projeto suicida, a serviço da estupidez, não hesitando em satanizar os que a ele se opõem.
 Ruy Fabiano Noblat é jornalista,

terça-feira, 22 de março de 2016

Violência e Criminalidade: uma análise das condicionantes sociais


 Por Major Fábio Dias

Violência e criminalidade sempre farão parte da convivência humana, o que se procura é evitar que seus índices cheguem a uma situação insustentável, a ponto de impedir a garantia do Estado Democrático de Direito, conforme a carta magna de 1988, a Constituição Federal.
A criminalidade é um fenômeno social, já identificado assim no final do século XIX como um fato próprio da existência humana, portanto fato social. (DURKHEIN, 1897).
É preciso entender a evolução da sociedade. Segundo Foucault, até a década de 90 ela era disciplinar, chamada era da sociedade circular, onde o tempo (transformação tecnológica) passou a avançar em formato de espiral – onde o passado não existia e o futuro muito menos – sem terminar nunca. É o chamado tempo das coisas inconclusas. Este tempo, na visão de Bauman, significava inclusive, dinheiro, segregando os consumidores em válidos e inválidos, estes sem recursos financeiros. A sociedade foi evoluindo, através dos períodos do Pós-Taylorismo, Pós-Fordismo e da Informática até chegar a sociedade Pós-Disciplinar ou Pós-Moderna. A criminalidade também acompanhou esta evolução.
O fato social é distinto do livre arbítrio e conseqüência das forças coercitivas da coletividade. É algo mensurável e que difere da vontade humana individual, a qual encontra as estruturas sociais prontas, não é decisão do homem incorporar ou participar destas formas de convívio, elas existem independente da vontade de cada um e obrigatoriamente somos integrados a elas. (GIDDENS, 1976)
A sociedade atual é altamente consumista “compro, logo existo”. Como controlar este consumismo desenfreado que movimenta a economia e contribui para o aumento da violência? Este é mais um desafio. Em estudo realizado no ano de 2004 pela Fundação Getúlio Vargas, no Brasil chegou-se a conclusão que existiam nas favelas cariocas mais televisores do que geladeiras.
Os mesmos anseios e desejos das camadas mais ricas ocorrem também com os jovens das classes menos favorecidas. É a nova religião consumista “Nike” fazendo com que estes jovens (excluídos sociais) utilizem de mecanismos ilícitos para satisfazer suas vontades, sendo facilmente recrutados pelo mundo do crime. Existe, na verdade, uma relação entre pobreza e criminalidade; relação esta não de causalidade, mas de potencialização (a pobreza potencializa o crime).

No passado, havia a escassez de recursos. Hoje, há abundância de determinados produtos. Segundo Bauman, as pessoas se tornaram abundantes, repetitivas e este sujeito redundante é interpretado como lixo, gerando exclusão por parte da sociedade, sendo uma das causas da violência.
Não há transformação social que não seja alcançada pela participação dos agentes de saúde, dos agentes de segurança e dos educadores; pois estes agentes inspiram a formação moral dos agentes coletivos. (BALLESTRERI, 2006)
O clamor social pelo combate à violência e a criminalidade passou a se intensificar a partir do momento em que começou a incomodar as classes privilegiadas desta sociedade desigual. Esta sociedade Pós-Moderna acabou por anular a força de trabalho. As pessoas acabaram buscando a informalidade que, por conseqüência, acabou gerando violência e aumento da criminalidade. É o ciclo do crescimento desordenado.
É preciso estudar a juventude para entender a criminalidade. A violência vem de se estar no mundo, da compulsão de se estar junto. É o mal-estar da sociedade, segundo Freud. Quando se restringe o espaço entre os seres humanos, aumenta-se a intolerância, o que também contribui para aumentar os índices de violência, corroborando para o chamado “niilismo social”, que contagiou a juventude nacional, oriundo desta sociedade contemporânea, altamente individualista, sem passado e sem futuro, onde o que se é levado em conta é o presente. O tempo mudou a forma de nos relacionarmos com as pessoas, onde qualquer situação desfavorável faz com que se descarte o outro. Está ocorrendo uma perda na durabilidade das relações. É o chamado “mundo novo”.
Algumas instituições permaneceram sem acompanhar a evolução da sociedade, perderam sua própria identidade, algumas chegaram a ser extintas. Atualmente, mesmo buscando a inclusão social, o controle da criminalidade vai se dever à atuação do Estado. Vivemos a chamada “democracia radical”, onde o cidadão não transfere a responsabilidade para os políticos, ele mesmo a assume.
Diante deste quadro de violência, onde vigora a teoria da anomia – a norma estabelecida deixa de ser referência para o cidadão; onde este, por estar descrente, passa a descumpri-la – inúmeras políticas públicas tentam minorar os estragos causados pela violência e criminalidade. Entretanto, parafraseando o saudoso Profº Gey Espinheira, somente soluções globais poderão ajudar a conter esta violência e, uma delas, seria o reconhecimento e o respeito aos direitos, de uma forma geral. Foi assim com as mulheres, as crianças e mais atualmente com os idosos. A sociedade aprendeu a controlar a mortalidade das baleias, tartarugas e micos-leões-dourados, mas ainda não conseguiu minorar as consequencias advindas dos altos índices de homicídios, muitos dos quais insolúveis, aumentando a sensação de impunidade. Até quando navegar nesse mar de passividade? Até quando?

*Fábio Nascimento Dias é Major da PM, atualmente comandando a 5ª CIPM - Ilha de Itaparica -BA, Especialista em Políticas e Gestão em Segurança Pública pela Escola de Administração da UFBA/SENASP/2007 e Especialista em Segurança Pública pela Universidade Estadual da Bahia/APM/2008.