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terça-feira, 19 de maio de 2015

O Judiciário em sono profundo... Sérgio espera por Justiça há 18 anos

 / Ribeirão Preto 

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Sérgio Nadruz Coelho fala pela primeira vez sobre crime que chocou Ribeirão Preto, em abril de 1997

Há dezoito anos, uma das vítimas – a única sobrevivente – de um dos crimes que mais repercutiram em Ribeirão Preto resolveu romper o silêncio. O autônomo Sérgio Nadruz Coelho, de 54 anos, tomou essa decisão com receio de que o crime prescreva e o acusado, o empresário Marcelo Zacharias Afif Cury, 40 anos, não vá a júri popular.

Cury é acusado de ter assassinado Marco Antônio de Paula e João Falco Neto e de tentar matar Sérgio, em 5 de abril de 1997, em frente ao Albanos, após uma discussão em choperia que funcionava, na época, na avenida Presidente Vargas, zona Sul, então uma das mais badalas da cidade. “Quero que a Justiça tome tenência e julgue logo o caso. O autor foi covarde, ele destruiu três famílias”, dispara Sérgio.
Até 2003, o autônomo morou em Ribeirão. Desde então, se mudou para o Rio de Janeiro para ficar junto aos familiares. O motivo: não conseguia mais viver em paz na cidade onde viveu o momento mais terrível da sua vida.
“Quando começou a discussão, eu estava em um bar próximo e havia sete pessoas dentro da Pajero do Marcelo Cury. O Marco começou a discussão com um rapaz no banco do carona do Marcelo e o João estava do lado dele. Quando vi a confusão, eu cheguei perto e fiquei ao lado da janela do Cury.”
Reprodução / EPTV
Marcelo Cury é acusado de dois assassinatos e uma tentativa (fotos: Reprodução / EPTV)
Sérgio ouviu Cury perguntar o que estava acontecendo e, nesse momento, viu o acusado puxar uma pistola que estava perto do freio de mão. Foi quando João Falco Neto levou dois tiros – o primeiro no braço e o segundo na testa – e caiu na hora. Com medo, Sérgio tentou fugir.
“Corri desesperado para trás da Pajero, mas tomei três tiros de costas – foi um em cada braço e outro nas costas. Parecia que eu levava pedradas”, relembra.
Caído e agonizando, Sérgio ouviu mais cinco tiros que tiraram a vida de Marco Antônio. Depois, lembra-se, como se fosse hoje, do momento em que a Pajero disparou em fuga por entre os corpos das três vítimas.
Cury fugiu para uma fazenda da família, em Araraquara, acompanhado do funcionário Arquimedes Ramos Neto. O veículo capotou na estrada e Arquimedes também morreu.
Vítima perdeu movimento e tem bala alojada
Não foi só o trauma psicológico que ficou em Sérgio. Hoje, com 54 anos, a vítima conta que, por conta do tiro que levou nas costas, perdeu o baço – a cicatriz é profunda.
“Tive que retirar o baço, a bala furou o intestino, o estômago e provocou fratura exposta no braço esquerdo. Por causa disso, até hoje sou mais propenso a ter infecções”, detalhou.
Mas não para por aí. Por conta do tiro que levou no braço esquerdo, Sérgio perdeu metade do movimento do pulso. A bala que atingiu o braço direito permanece alojada e não foi retirada.
“Quando cheguei ao hospital após os tiros, minha pressão estava em 6 por 2 e havia perdido 70% do sangue do corpo, estava quase morrendo. Me lembro que dei um telefone de contato pro enfermeiro e apaguei”. Ao todo, foram 39 dias internado no Hospital das Clínicas de Ribeirão.
Sérgio diz que, em julho, estará em Ribeirão e pretende encabeçar um protesto para que o caso seja julgado logo. Ele utiliza sua página no Facebook para relembrar o crime e reiterar pedidos de justiça.

Processo parado no STJ
O crime ocorreu em 1997, mas, até agora, não há previsão de quando o caso irá a julgamento. Desde então, os advogados de Marcelo Cury entraram com vários recursos que protelaram o julgamento marcado e adiado várias vezes.
O caso hoje está parado no STJ (Superior Tribunal de Justiça). A prescrição do crime deve levar ainda alguns anos, já que, segundo criminalistas, o prazo em que o Estado perde o direito de punir alguém que infringiu uma lei penal muda de acordo com o curso do processo.
Inicialmente, conta-se o prazo de 20 anos para prescrição a partir do recebimento da denúncia pela Justiça.
Quando há o trânsito em julgado da sentença da pronúncia (em que o juiz diz que o réu deve ir a júri), o mesmo prazo começa a contar do zero. Como o réu foi pronunciado em 2010, haveria mais tempo para o crime prescrever.
Cury, que pode pegar até 30 anos de prisão, caso seja condenado, responde ao processo em liberdade e nunca chegou a ser preso. Ele sempre afirmou que é inocente e que agiu em legitima defesa “após ter sido provocado” pelos rapazes, no local.
O advogado de Cury, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, foi procurado pela reportagem em seu escritório, em São Paulo, mas não retornou as ligações.

http://www.jornalacidade.com.br/noticias/cidades/NOT,2,2,1062388,Sergio+espera+por+Justica+ha+18+anos.aspx
 

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