Juiz Sérgio Moro torna réus pela primeira vez ex-parlamentares
envolvidos em
corrupção e lavagem de dinheiro flagrados
pela Operação Lava Jato
Por: Laryssa Borges, de Curitiba
O juiz Sérgio Moro, que conduz os processos da Operação Lava
Jato na Justiça Federal de Curitiba, aceitou nesta segunda-feira denúncia do Ministério Público contra
os ex-deputados Luiz Argôlo (SD-BA), André Vargas (ex-PT), Pedro Corrêa (PP-PE)
e outras dez pessoas. Com a decisão do magistrado, os ex-parlamentares, ao lado
da também ex-deputada Aline Corrêa (PP-SP) e dos irmãos de Vargas, Leon e
Milton, passam à condição de réus.
O ex-deputado Luiz Argôlo havia sido denunciado dez vezes por
corrupção, dez vezes por lavagem de dinheiro e 93 vezes por peculato depois de
ter sido apontado pelo Ministério Público como um dos políticos mais próximos
do doleiro Alberto Youssef, criminoso que atuava como operador do PP no
escândalo do petrolão. Para os investigadores da Lava Jato, Argôlo pode ser
classificado "quase como sócio" de Alberto Youssef em negócios
ilícitos. Foram mapeadas 78 visitas do ex-parlamentar aos escritórios de
Youssef - pelo menos quarenta visitas (93 trechos aéreos) entre 2011 e 2014
pagas pela Câmara ao custo aproximado de 55.000 reais.
"Alberto Youssef também teria pagado propina a João Luiz
Correia Argolo dos Santos em interesse próprio e em razão da função por ele
então ocupada, buscando obter atos do deputado em seu favor na realização de
negócios, como interferência para obtenção de financiamentos em instituições
financeiras oficiais", relata o juiz Moro no despacho em que aceita a
denúncia.
Também transformado em réu por ter recebido propina de empresas,
o ex-1º vice-presidente da Câmara dos Deputados André Vargas havia sido
denunciado por ter recebido ilegalmente dinheiro emcontratos de publicidade com
a Caixa Econômica e com o Ministério da Saúde. De acordo com as investigações
dos procuradores que atuam na Lava Jato, o publicitário Ricardo Hoffman,
ex-dirigente da agência de propaganda Borghi/Lowe pegou propina a Vargas para
que a empresa fosse contratada para atuar na Caixa e na Saúde. Em troca, a
agência de publicidade teria atuado para recolher dinheiro para as empresas de
fachada LSI Solução e Limiar Consultoria, controladas por Vargas e por seus
irmãos. Ao todo, teriam sido pagos cerca de 1,1 milhão de reais em propina de
2010 a 2014 às empresas do ex-petista. Depoimentos recolhidos nos inquéritos
comprovam que a LSI e a Limiar não prestaram qualquer serviço e que os
depósitos de propina foram feitos por solicitação da Borghi/Lowe.
Denunciado por 280 atos de corrupção, 568 atos de lavagem de
dinheiro e 123 atos de peculato, o ex-deputado Pedro Corrêa, que já havia sido
condenado no julgamento do mensalão, foi apontado pela acusação como "um
dos responsáveis pela distribuição interna do PP". A arrecadação de
recursos ilícitos pela família Corrêa incluía a atuação de um assessor
parlamentar, a criação de uma funcionária fantasma e a participação de
funcionários do extinto gabinete de Corrêa.
Em cerca de dez anos, o PP, partido que já foi presidido pelo
ex-deputado, e a diretoria de Abastecimento da Petrobras, comandada na época do
petrolão por Paulo Roberto Costa, receberam quase 358 milhões de reais em
propina. Além de ter classificado como o "responsável geral" pela
propina, Corrêa embolsou diretamente, de acordo com o Ministério Público, 40,7
milhões de reais.
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