Texto sugerido por Ricardo Spinola
Por Claudia Wild
Bom, aos que acharam que o depoimento do
ex-presidente Lula da Silva foi um sucesso (para sua defesa), aqui vai a opinião
de quem trabalhou por mais de uma década com o Direito Penal e deve ter feito
muitas audiências de interrogatório de centenas de acusados.
Lula estava nervoso, muito nervoso.
Tentava aparentar uma calma que não tinha. Foi contraditório em várias partes do
depoimento (quando por exemplo disse que resolveu conversar com Renato Duque e
perguntar-lhe se tinha contas no exterior, quando anteriormente declarou que ele
-presidente e petista - *não tinha qualquer responsabilidade nos atos criminosos
de seus indicados* à Petrobrás: Duque era indicação do PT).
Se não tinha responsabilidade, qual a
razão de ir atrás do indicado?
Lula foi acintoso para com o Juízo e
Ministério Público. Foi debochado, cínico, arrogante, tentou armar seu palanque
diante do ato processual, repetindo a tese tosca de que estava sendo perseguido
por ter feito um governo excepcional, voltado para o povo do Brasil, fato que se
falso ou verdadeiro, é absolutamente irrelevante para a análise do mérito, pois
na verdade existem centenas de provas mostrando a ligação entre as propinas e a
aquisição fraudulenta de dois imóveis de uso e desfrute de Lula e sua
família.
Ele não soube explicar por exemplo, o que
os documentos do apartamento do Guarujá estavam fazendo em sua residência em São
Bernardo do Campo.
Não soube explicar também, as notas
fiscais sobre as reformas, as visitas de familiares e etc.
Se não havia a menor intenção na aquisição
do imóvel (como declarou), as tais provas não existiriam - elementar!
A defesa de Lula mostrou-se pueril por
sustentar a tese de que a falecida D. Marisa, se fez alguma transação comercial
com Leo Pinheiro e a OAS sobre o triplex, o fez por conta própria e sem a
aquiescência do marido.
Ora! Que idiotice! Afinal, nota-se
claramente que é uma estratégia inescrupulosa da defesa *para jogar a culpa
numa finada e inexpressiva pessoa*, a falecida esposa do acusado.
O desmonte desta infantilidade se daria,
por exemplo, pelo fato de que a falecida senhora não dispunha de recursos
financeiros para adquirir um bem de elevado valor (ainda que tivesse uma conta
recheada de pixuleco, ninguém saca R$ 2 milhões de sua conta corrente, sem que
isso não seja notado).
Dona Marisa não era de família
endinheirada, não exercia uma profissão rentável e, salvo engano, recebia uma
aposentadoria de um sindicato cumpañero, de mais ou menos *R$ 20 mil*.
Caso ela quisesse (ainda que para
proporcionar uma surpresa ao amado marido) comprar o apartamento teria que
necessariamente recorrer ao cônjuge para pagamento e desdobramentos
burocráticos.
Uma simples checada no imposto de renda da
citada pessoa e do acusado (que deve ser conjunta) *já aniquila esta
infantilidade de advogado nefelibata*, que pensa ser a justiça pouco inteligente
ou que desconsidera as provas materiais da denúncia.
Vejam que a tese é tão estapafúrdia e
mostra-se tão artificial que é usada como “álibi“ de Lula para se eximir do
recebimento da propina ou da compra do imóvel.
Exatamente o contrário do que fez a
advogada Adriana Ancelmo (também usando de artifícios) que se passou por uma
servil Amélia, dizendo nada saber sobre os ganhos do marido e que não
questionava os gastos astronômicos da família, pois sua relação com o
ex-governador Sérgio Cabral era de confiança, apenas matrimonial e jamais
patrimonial.
A advogada bem sucedida, conhecida no meio
jurídico por transações milionárias e por chefiar um grande escritório de
advocacia era uma reles e submissa Amélia.
Já Dona Marisa, a analfabeta dona de
casa, era uma resoluta mulher de negócios, que comprava imóveis no valor de R$
2 milhões no famoso litoral de São Paulo como investimento, conforme declarou
seu marido, pois "inclusive não gostava de praia“ (sic).
Sinceramente, no tempo em que militava nos
tribunais, os advogados eram bem mais inteligentes e apresentavam outra postura
no trato com a defesa de seus clientes.
O advogado deveria pelo menos ter tentado
desconstituir as provas materiais da denúncia (se é que isto seria possível),
mas não, ele preferiu afrontar a inteligência de uma equipe seleta de promotores
de justiça e de um juiz que já condenou 90 pessoas por todo tipo de
corrupção.
O método usado pela defesa foi inadequado.
Ainda que exista o glorioso e aparelhado STF para colocar na rua e absolver o
camarada Lula, certamente na primeira instância, o ensaboado bravateiro *será
carimbado como réu*.
Já não se fabricam mais advogados como
antigamente, nem na civilidade, postura ética, ou na formação técnica. Paulo
Freire aplaudiu a audiência na República de Curitiba! Neste caso excepcional, o
Brasil agradece.
*Claudia Wild*
Advogada / brasileira / mineira / residente na Alemanha
Criminalista com avançado estudo em política e geopolítica.
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