BRASIL
Delator diz que Jacques Wagner ajudava a Odebrecht em troca de doação para
campanha
Ex-diretor Cláudio Filho diz que a relação entre o ex-governador da Bahia e
a empreiteira começou em 2006.
POR EVANDRO ÉBOLI:
Jaques Wagner é acusado de cobrar doação de campanha da Odebrecht - ANDRE
COELHO / Agência O Globo.
BRASÍLIA - Na sua delação, o ex-diretor da Odebrecht Cláudio Filho conta
que o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, do PT, atendia aos pleitos da
empreiteira mediante doação para suas campanhas eleitorais e do seu sucessor no
cargo, Rui Costa, também petista. Solicitava também recursos para o partido. Ele
faz o relato que na sexta-feira antes do domingo da eleição de 2014, cobrou um
repasse de R$ 10 milhões que não teria sido feito pela Odebrecht, em troca da
liberação de dinheiro de uma dívida de R$ 290 milhões do governo com a empresa.
Desse montante, R$ 30 milhões, pelo acordo, seriam destinados às campanhas
petistas. Cláudio Filho sempre que fala desses repasses a políticos usa o termo
"a pretexto de campanha" ou para "pretensa campanha".
A relação entre Wagner e a Odebrecht começou em 2006, quando o petista
venceu a eleição ao governo da Bahia. Filho diz que, no início, os dirigentes da
Odebrecht tinham dúvidas sobre a vitória de Wagner e que a certeza "sobre o
êxito na sua carreira não era unânime". O apoio financeiro na eleição teria sido
de R$ 3 milhões - entre oficial e caixa 2 - e, para sua reeleição, o total
repassado teria sido de R$ 7,5 milhões. Este último, feito em dez pagamentos
entre agosto de 2010 e março de 2011. Ao longo de dois mandatos como governador,
o petista atendeu a vários pedidos da Odebrecht e teve o reconhecimento da
empreiteira. Segundo o depoente, com o tempo, seus pedidos de ajuda financeira
ficaram mais qualificados.
"A atenção demonstrada por Jacques Wagner aos temas que eram de interesse
da Odebrecht reforçou a sua imagem no grupo e qualificou-o como beneficiário de
melhores recebimentos financeiros. O próprio Jacques Wagner fez questão de
encaminhar esse pedido de apoio financeiro mais qualificado, apoiando-se na
cuidadosa atenção que demonstrou aos nossos pleitos ao longo do seu primeiro
mandato como Governador da Bahia" - disse o ex-diretor da Odebrecht.
A empresa também só fazia os repasses se tivesse a garantia de Wagner do
atendimento de seus pedidos. Filho diz que, em 2014, Wagner o procurou e pediu
apoio finaneiro para a campanha de Rui Costa, do PT, e que o sucedeu no
cargo.
"Conversei com Marcelo Odebrecht, que me disse que só iríamos fazer um
pagamento mais elevado caso o assunto da Bahia Gás fosse resolvido ou, então, se
um tema denominado “Recebíveis CERB” fosse encerrado, tema esse que era uma
questão antiga que envolvia disputa judicial da Odebrecht contra o Estado da
Bahia...Em algumas oportunidades cobrei a solução do governador. O assunto
demorou muito, mas foi resolvido por Rui Costa (que também era chefe da Casa
Civil da gestão de Wagner). Em função disso, fizemos contribuição financeira
diferenciada a Rui Costa".
Essa pendência judicial - o "recebíveis Cerb" - envolvia, segundo o
depoente, uma dívida do governo de R$ 390 milhões com a Odebrecht. Filho diz que
ficou combinado o pagamento de R$ 290 milhões e, desse total, R$ 30 milhões
seriam pagos ao PT a pretexto de a campanhas do partido na Bahia na eleição de
2014 e em eleições futuras.
Wagner recebeu o codinome de "Polo", como era tratado nas mensagens da
Odebrecht e na planilha de repasses. Um dos pedidos da empresa ao então
governador foi o de devolução pelo estado de parte do ICMS referente ao polo
petroquímico de Camaçari.
Cláudio Filho confirmou dois relógios dados como presente de aniversário a
Wagner. Em março de 2012, o petista recebeu um relógio da marca Hublot, modelo
Oscar Niemeyer, que tem no fundo uma imagem do Congresso Nacional, e cujo preço
é US$ 20 mil (R$ 67,4 mil). O outro relógio presenteado, de marca Corum, vale
US$ 4 mil (R$ 13,5 mil).
http://oglobo.globo.com/brasil/delator-diz-que-jacques-wagner-ajudava-odebrecht-em-troca-de-doacao-para-campanha-20624379
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