Por: Robson Bonin e Kalleo Coura
A reforma do apartamento tríplex do ex-presidente — que incluiu a
instalação de um elevador privativo — foi paga por uma das empreiteiras
envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras.
Bancar melhorias na Casa da Dinda, a residência de Fernando
Collor, no Lago Norte, em Brasília, era uma das muitas maneiras de agradar ao
então presidente, deposto do cargo por corrupção em 1992. A mesma tática foi e
está sendo usada por empreiteiras para demonstrar afeição ao ex-presidente
Lula.
Em meados de 2014, depois de quase dez anos de espera, a ex-primeira-dama
Marisa Letícia viajou à Praia das Astúrias, no Guarujá, para buscar as chaves
do apartamento dos sonhos da família. O refúgio dos Lula da Silva no litoral é
um tríplex de 297 metros quadrados. São três quartos, suíte, cinco banheiros,
dependência de empregada, sala de estar, sala de TV e área de festas com sauna
e piscina na cobertura. Ah, sim, para um eventual panelaço das elites, o tríplex
tem varanda gourmet no 1º andar. O plano de comemorar o réveillon no imóvel foi
adiado pela decisão de fazer ali uma reforma. O porcelanato e os acabamentos de
gesso foram refeitos, a planta interna foi modificada para abrigar um
escritório e um elevador privativo, interligando os ambientes do 1º andar com a
ala dos quartos, no 2º nível, e a área de festas, na cobertura. Acompanhada de
perto por dona Marisa, a obra não custou um centavo à família do ex-presidente.
Do primeiro parafuso ao último azulejo, tudo foi pago pela OAS, uma das
empreiteiras envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras.
VEJA teve
acesso a documentos e a fotos (em VEJA.com) que detalham a reforma do tríplex
presidencial e mostram que os serviços foram contratados pela empreiteira. O
trabalho foi feito pela Tallento Inteligência em Engenharia, uma empresa
conhecida no mercado por executar obras de alto padrão em prazos curtos - duas
exigências dos contratantes, mas não as principais. A exigência maior era a
discrição. As investigações da Lava-Jato revelariam meses depois as razões
disso. Iniciada em 1º de julho de 2014, a reforma transcorreu sob medidas de
segurança incomuns. A fechadura da porta de acesso era trocada toda semana. A
reforma da cobertura tríplex chamou a atenção dos moradores do prédio.
"Nos
dias em que eles marcavam para visitar a obra, a gente tinha de parar o
trabalho e ir embora. Ninguém era autorizado a permanecer no apartamento. Só
ficamos sabendo quem era o dono muito tempo depois, pelos vizinhos e
funcionários do prédio, que reconheceram dona Marisa e o Lulinha (Fábio
Luís Lula da Silva, o filho mais velho do ex-presidente)",
disse a VEJA um dos profissionais que colaboraram na reforma.
O ex-presidente
Lula esteve no tríplex algumas vezes. O segredo durou até dezembro do ano
passado, quando o jornal O
Globo publicou
detalhes de uma investigação sobre a Cooperativa Habitacional dos Bancários
de São Paulo (Bancoop). Controlada pelo PT, a entidade faliu e deixou 3 000
famílias sem receber seus imóveis. O tríplex destinado a Lula, com uma das
melhores vistas do Guarujá, avaliado em 2,5 milhões de reais, foi um dos poucos a ser
entregues. VEJA revelou em abril passado que, depois de um pedido feito pelo
próprio ex-presidente a Léo Pinheiro, executivo da OAS, seu amigo, preso na
Operação Lava-Jato, a OAS assumiu a construção do prédio, que estava parada.
Além de Lula, parentes do tesoureiro petista João Vaccari Neto, também preso,
sindicalistas e familiares de Rosemary Noronha, a amiga íntima de Lula, foram
contemplados com apartamentos em outros prédios da Bancoop assumidos pela OAS.
Revelado o privilégio, e diante da repercussão negativa, desapareceu o
entusiasmo da família Lula pelo imóvel.
O
ex-presidente passou a negar ser o proprietário do tríplex, embora admita que
sua esposa seja dona das cotas de um apartamento no mesmo edifício, o Solaris.
Não é mentira. É apenas uma meia verdade. No papel, o tríplex ainda está em
nome da OAS. Funcionários da empreiteira procurados por VEJA confirmaram que o
apartamento pertence aos Lula da Silva, está parcialmente mobiliado, permanece
fechado e está à venda por 2,3 milhões de reais. "Para entrar aí, só com
autorização da cúpula da construtora. Só eles e o Lula têm a chave", disse
a VEJA, na semana passada, um funcionário da própria OAS.
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